segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Criaçao de espaços


É comum os treinadores queixarem-se da falta de espaços. Essa análise surge muito nas competições europeias como forma de dizer que o jogo seguinte será diferente porque a outra equipa, estando em desvantagem, vai ser obrigada a atacar e “dar mais espaços”. É uma reflexão verdadeira mas pouco perspicaz. Porque “não existirem espaços” é natural no futebol. É nisso que este jogo precisamente consiste. Em ganhar espaços e essa capacidade é uma excelente forma para distinguir a categoria das equipas. As grandes equipas não são as que apenas aproveitam os espaços vazios. As grandes equipas são as que criam espaços. As que, mesmo nos jogos mais fechados, desembrulham zonas onde a quantidade de jogadores aumenta e abrem pequenas clareiras que fazem a diferença. Os jogos da Champions foram uma boa forma de entender estes conceitos de “aproveitar espaços” ou “criar espaços”. Naturalmente, muita desta capacidade, sobretudo quando o campo fica mais pequeno (isto é quando, por força do aproximar das linhas adversárias, uma equipa é obrigada a atacar em menor espaço de terreno) depende da criatividade individual dos jogadores. Da capacidade. em curtos espaços de terreno, fugir ás marcações e executar rápido e com precisão. Exemplar o lance do golo do Lyon ao Manchester para entender este principio na fase de conclusão. Perfeita a recepção de Benzema, percebendo que na nuca lhe respirava Vidic e Ferdinand, para rodar curto com velocidade, em centímetros de relva, dando a bola a cheirar a Brown, e após uma rápida e subtil simulação de corpo, descobrir uma frecha para rematar. Golo! Noutras ocasiões, os espaços criam-se colectivamente. Basta a técnica inteligente metida na táctica mais simples. Uma finta, uma tabela e um remate. Tudo desenhado com régua e esquadro. Movimentos verticais e diagonais com uma pulga no meio. Isto é, Leo Messi. No bosque de Glasgow, contra oito defesas escoceses entusiasmados a defender. Apanhou a bola num flanco, dançou em frente ao marcador, ganhou-lhe o espaço no drible e, vendo espaço para a linha de passe tocou para o meio, onde Deco, reparou como Messi automaticamente arrancara em diagonal para um espaço aberto na área escocesa, logo devolveu-lhe a bola num passe vertical que rasgou um espaço entre o muro defensivo escocês, apanhando o argentino desmarcado na cara da baliza. Golo! Na descrição deste lance, utilizei quatro vezes a palavra espaço. Não são muitas. Quanto mais a utilizar, melhor foi a jogada. O fundamental é, em cada movimentação, um jogador criar opções de passe. Com isso, cria espaços. Com isso, joga melhor. Ele e a equipa. É esta a base das grandes equipas e do bom futebol. Serem inventores de espaços!

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